Para mim as melhores quadras:
Um pára-raios na igreja
Demonstra bem aos ateus
Que o padre recorre à ciência
Porque não tem fé em Deus
No tempo das bárbaras nações
Nas cruzes pendiam os ladrões
Agora no tempo das luzes
No peito dos ladrões pendem as cruzes
Esse sujeito é capaz
De nos fazer mil promessas
Mas faz-nos tudo às avessas
Das promessas que nos faz
Para não fazeres ofensas
E teres dias felizes,
Não digas tudo o que pensas,
Mas pensa tudo o que dizes.
Uma mosca sem valor
Poisa com a mesma alegria
Na careca de um Doutor
Como em qualquer porcaria
Riem d'outras com desdém
Certas damas bem vestidas
Quantas , para vestir bem,
Se despem às escondidas!
Foste beijar o menino,
Quando, afinal eu vi bem
Que beijaste o pequenino
Porque gostavas da mãe
Esta mascarada enorme
Com que o mundo nos aldraba
Dura enquanto o povo dorme
Quando ele acordar, acaba!
Vim ao mundo sem saber
Que vinha a ser o que sou;
Agora morro sem querer
E sem saber para onde vou.
Quem me vê dirá: não presta,
Nem mesmo quando lhe fale,
Porque ninguém traz na testa
O selo de quanto vale.
Sou humilde, sou modesto;
Mas, entre gente ilustrada,
Talvez me digam que eu presto,
Porque não presto p’ra nada.
Alheio ao significado,
Diz o povo, e com razão,
Quando ouve um grande aldrabão:
-Dava um bom advogado.
Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência!
P'ra mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.
Após um dia tristonho
de mágoas e agonias
vem outro alegre e risonho:
são assim todos os dias
Julgando um dever cumprir,
Sem descer no meu critério,
- Digo verdades a rir
Aos que me mentem a sério!
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